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Cenário Global: Como a Desaceleração na China Afeta o Brasil

Cenário Global: Como a Desaceleração na China Afeta o Brasil

09/06/2025 - 14:23
Fabio Henrique
Cenário Global: Como a Desaceleração na China Afeta o Brasil

Em um cenário de crescente interconexão global, a China exerce papel central na dinâmica econômica mundial. Sua recente desaceleração traz desafios e oportunidades para o Brasil, país que mantém intensa relação comercial e de investimentos com o gigante asiático.

Dados Econômicos da China

O ritmo de crescimento econômico da China desacelerou para menos de 5% ao ano em 2024–2025, segundo a estimativa da OCDE. Em 2024, o PIB avançou 4,9%, caindo para uma projeção de 4,5% em 2025.

No terceiro trimestre de 2024, a expansão foi de apenas 4,6% comparado ao mesmo período de 2023. Vários fatores explicam esse desaquecimento:

  • Crise no setor imobiliário, com lançamentos em queda e estoques elevados.
  • Mudanças demográficas, incluindo o envelhecimento populacional e a baixa taxa de natalidade.
  • Transição de um modelo centrado em investimento para fortalecimento do consumo interno.
  • Impactos de guerras comerciais, especialmente com os Estados Unidos, reduzindo a demanda por produtos exportados.
  • Aumento da cautela de investidores internacionais, reduzindo novos aportes.

Interdependência Comercial Brasil-China

A China consolidou-se como o principal destino das exportações brasileiras, absorvendo US$ 100 bilhões em embarques no ano de 2023. A lista de produtos inclui minério de ferro, soja, celulose, alumínio, cobre, couro, carne bovina e diversos grãos.

Ao mesmo tempo, o volume de investimentos chineses no Brasil caiu para US$ 1,73 bilhão em 2023, segundo o CEBC, o segundo patamar mais baixo desde 2009. Essa redução reflete a estratégia mais cautelosa de grandes grupos internacionais.

Impactos Por Setor

Os efeitos da desaceleração na China repercutem de forma distinta em cada segmento da economia brasileira. A tabela a seguir ilustra esses impactos:

Reflexos Macroeconômicos

Em nível macro, a desaceleração chinesa provoca movimentos em várias frentes:

  • Commodities: A queda dos preços das commodities afeta o saldo da balança comercial e reduz as receitas do setor exportador.
  • Contas Externas: Menor volume de vendas ao exterior pressiona o equilíbrio cambial e arrecadação do governo.
  • Inflação: Produtos industriais e agrícolas importados mais baratos podem contribuir para moderação da inflação, que estava em 4,42% nos 12 meses até outubro de 2024.
  • Investimentos: A redução nos investimentos diretos chineses atinge principalmente setores como energias renováveis, mobilidade elétrica e TICs.

Oportunidades e Riscos Estratégicos

Apesar dos desafios, há janelas de oportunidade para o Brasil:

  • Redirecionar exportações para setores agrícolas e minerais, aproveitando tensões EUA-China.
  • Buscar ganhos de produtividade interna para manter a competitividade no longo prazo.
  • Explorar novos nichos em infraestrutura moderna, smart cities e tecnologia ambiental.
  • Diversificar mercados além da China, reduzindo riscos de concentração comercial.

Por outro lado, a dependência excessiva do agronegócio pode expor o Brasil a choques externos, e a falta de diversificação em tecnologia e serviços limita o potencial de crescimento sustentável.

Contexto Histórico e Perspectivas

Em 2019, a China já vivenciou sua desaceleração mais acentuada em três décadas, com o PIB crescendo apenas 6,1%. Naquela ocasião, o governo reagiu com incentivos fiscais, maior oferta de crédito e megaprojetos de infraestrutura.

O cenário atual, entretanto, indica que mudanças estruturais profundas serão necessárias para retomar um patamar de crescimento robusto. Sem reformas demográficas, maior estímulo ao consumo interno e inovação tecnológica, o ritmo lento poderá se estender e continuar pesando sobre o comércio global.

Considerações Finais

A desaceleração da China apresenta um desafio inegável para o Brasil, mas também abre espaço para oportunidades de reposicionamento estratégico global. Governos, empresas e produtores precisam ajustar suas políticas e estratégias, apostando em diversificação, inovação e ganhos de produtividade.

Ao compreender detalhadamente os dados, impactos setoriais e cenários futuros, o Brasil estará mais preparado para enfrentar os ventos contrários e aproveitar as correntes favoráveis, construindo uma trajetória de crescimento sustentável e resiliente em um mundo cada vez mais interligado.

Fabio Henrique

Sobre o Autor: Fabio Henrique

Fabio Henrique