O universo das criptomoedas evoluiu rapidamente desde a criação do Bitcoin em 2009, ganhando destaque por sua capacidade de descentralizar transações e oferecer novas soluções financeiras. Contudo, a volatilidade extrema que caracteriza muitos tokens digitais gerou desconfiança e restrições regulatórias. Em resposta a esse cenário, surgiram as criptomoedas lastreadas em ativos reais, incluindo stablecoins e tokens de Real World Assets (RWAs), capazes de reduzir riscos e atrair um público mais amplo. Este movimento representa uma ponte entre o digital e o físico, conectando o mundo financeiro tradicional ao ecossistema blockchain com mais segurança e previsibilidade para investidores. Adotadas por instituições financeiras, grandes fundos de investimento e empresas de tecnologia, essas soluções têm o potencial de transformar mercados globais. Neste artigo, exploraremos conceitos, benefícios, desafios e perspectivas, mostrando por que as criptomoedas lastreadas em ativos reais estão conquistando cada vez mais espaço no mercado financeiro mundial.
As stablecoins são criptomoedas projetadas para manter um valor estável ao serem lastreadas em moedas fiduciárias como dólar, euro ou real, assim como em metais preciosos ou outros bens tangíveis. Por outro lado, os Real World Assets (RWAs) representam ativos do mundo real tokenizados digitalmente, incluindo imóveis, obras de arte, direitos autorais e patentes. Esses tokens oferecem garantia de valor vinculada ao ativo físico de forma transparente e audível na blockchain. Ao combinar a segurança do mundo real com a eficiência dos contratos inteligentes, esses instrumentos ganham relevância crescente, ampliando o leque de aplicações e estimulando maior participação de investidores conservadores e institucionais.
Com o avanço tecnológico, a tokenização de ativos facilita a negociação fracionada, permitindo que investidores de diferentes portes acessem segmentos antes restritos a grandes players. Além disso, a rastreabilidade inerente à blockchain garante histórico imutável de transações, o que fortalece a confiança e favorece a adoção em larga escala.
O segmento de Real World Assets tem atraído atenção de consultorias e bancos de investimento globais. Segundo o Boston Consulting Group, o mercado de RWAs poderá atingir US$ 600 bilhões até 2030, um salto de cerca de 50 vezes em relação aos níveis de 2024. Esse crescimento exponencial reflete o interesse de gestores de fundos na tokenização de ativos tradicionais e na oferta de produtos financeiros híbridos, que unam segurança e inovação.
Além disso, projeta-se que os protocolos DeFi passem a integrar RWAs como colateral para empréstimos e derivativos, ampliando ainda mais o ecossistema e gerando oportunidades de arbitragem e diversificação de risco.
No Brasil, o Banco Central tem prioritariamente estudado a criação de normas específicas para stablecoins e tokenização de ativos, com previsão de publicação em 2025. A Lei nº 14.478/23, conhecida como Marco Legal dos Criptoativos, já estabeleceu fundamentos para a supervisão de prestadoras de serviços de ativos virtuais (VASPs) e exchanges. A iniciativa visa oferecer segurança jurídica e fomento ao mercado, equilibrando inovação e proteção ao investidor.
O processo regulatório será conduzido de forma coordenada com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), permitindo uma abordagem gradual e alinhada a padrões internacionais. A expectativa é que, com regras claras, aumente o interesse de investidores institucionais nacionais e estrangeiros, consolidando o Brasil como polo de desenvolvimento e atração de capital para criptoativos lastreados em ativos reais.
As criptomoedas lastreadas em ativos reais proporcionam diversas vantagens em comparação a tokens puramente especulativos. Elas oferecem estabilidade e segurança financeira, já que o valor é respaldado por ativos tangíveis. Além disso, promovem liquidez e acessibilidade a ativos tradicionais, permitindo que pequenos investidores acessem frações de imóveis, commodities ou obras de arte de forma simples e eficiente.
O crescimento acelerado dos RWAs é resultado de vários fatores convergentes. A entrada de instituições como BlackRock, JPMorgan e Franklin Templeton em plataformas de tokenização demonstra confiança e atrai mais capital. A maior clareza regulatória em economias desenvolvidas e emergentes, incluindo Brasil e EUA, favorece a criação de novos produtos financeiros. Simultaneamente, o ecossistema DeFi tem integrado RWAs como garantia em protocolos de empréstimo, o que expande sua utilidade e gera novas oportunidades de rendimento.
Apesar do potencial, o investimento em ativos tokenizados requer atenção a riscos específicos. A legislação em desenvolvimento pode sofrer alterações, afetando operações e custos de conformidade. É fundamental exigir transparência e auditoria independente para garantir que o lastro esteja efetivamente depositado ou mantido em custódia segura. Investidores devem avaliar a credibilidade de emissores, a solvência de custodiante e a liquidez do mercado secundário antes de alocar recursos significativos.
Com a consolidação de regulamentação robusta e o aumento da participação institucional, espera-se que as criptomoedas lastreadas em ativos reais impulsionem um novo ciclo de inovação no mercado financeiro. A tokenização de ativos tem potencial de gerar expansão de mercados de capitais, inclusão financeira e maior eficiência em pagamentos e empréstimos. No Brasil, o avanço do Marco Legal e o engajamento de startups e grandes players podem transformar o país em referência regional nessa tecnologia, atraindo investimentos e promovendo o desenvolvimento econômico sustentável.
À medida que o ecossistema amadurece, investidores, reguladores e desenvolvedores deverão colaborar para superar desafios, aprimorar processos de custódia e fortalecer a confiança. Dessa forma, as criptomoedas lastreadas em ativos reais poderão consolidar-se como pilares de um sistema financeiro mais transparente, acessível e resiliente.
Referências